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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Mudar de carreira não revela fracasso, mas uma decisão madura


Estão abertas as inscrições para os vestibulares. Com isso, não basta que se tenha estudado para as provas. Algo que os alunos estão fazendo há anos (ao menos as escolas têm exigido). É necessário que se tenha pensado em qual carreira profissional disputar nessa prova. O que terão que dizer quando preencherem os formulários.
Aquilo que deveria ter sido pensado e trabalhado com tempo, mas dificilmente totalmente resolvido, cai na teia do desespero – não se sabe ao certo o que escolher. Espera-se uma solução mágica.
E a solução vista por muitos é a dos testes vocacionais. Que ajudam, sem dúvida. Mas jamais vão ter o poder de decidir o futuro de alguém. Nem eles, nem os profissionais que os utilizam.
Por um bom tempo, os testes ocuparam um lugar perigoso no imaginário. Eram vistos como instrumentos capazes de fazer predições sobre as pessoas, seja quanto a inteligência (o famoso QI – quociente intelectual), a sanidade, ou, porque não, sobre o futuro profissional delas. De certo modo, determinavam algo sobre aqueles que se submetiam a eles. Eram desejados e temidos. Ainda isso acontece.
Os testes psicológicos são uteis para o profissional, como modo de compreender melhor aquela pessoa que o procura. É um recurso a mais e não tem poder algum sozinho.
Mesmo assim, o poder que se dá a eles é tão grande, que até na internet são encontrados. Com um clique, pode-se ter um resultado do que fazer profissionalmente. Eles costumam ser do tipo: o que você prefere, isso ou aquilo? – lembrando alguns antigos testes usados na área da orientação profissional e que foram deixados de lado – eram altamente direcionáveis pela pessoa que os fazia (era incrível, geralmente o resultado correspondia ao que a pessoa queria, mas que nem sempre tinha a ver com ela).
A utilização de um teste, ou de um conjunto deles, para dizer qual carreira seguir é buscar a resposta no lugar errado – fora de si. A resposta deve ser procurada dentro de cada um. O teste pode até dar um caminho, se bem utilizado. Mas jamais vai ajudar alguém amadurecer para a tomada de decisão. Não se pode abrir mão desse direito, apesar do peso que essa decisão representa.
O peso está na idéia de que é preciso acertar algo que tem que ser para toda a vida. E se lá para frente eu descobrir que gosto de outra coisa? É a dúvida de muitos. Quantos já não passaram por isso? Se o teste disser que se tem que seguir um caminho, não é preciso se comprometer, a culpa não é da pessoa. Bolas de cristal não existem.
Se no futuro se perceber que os interesses mudaram, é porque muito provavelmente a pessoa mudou. Mudou devido as experiências vividas, que incluem aquelas relacionadas com a atividade profissional previamente escolhida. As experiências nos transformam. Depois de cursar uma faculdade, a pessoa já não é mais a mesma de quando a começou. O mesmo acontece depois de anos de profissão.
Alguns se apaixonam mais pelo que escolheram. Outros descobrem coisas diferentes e resolvem mudar. O que não quer dizer que fracassaram. Pelo contrário. Procurar ser feliz nunca é um fracasso. Não há soluções mágicas para se decidir o futuro. Viver envolve riscos. A vida não é e nunca será linear.
(Ana Cássia Maturano é psicóloga e psicopedagoga)
G1

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